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A Nossa Gente
Falar da Nossa Gente é trazer à memória algumas figuras relevantes da nossa Terra.
Naturais do Município de Ílhavo, ou embora não o sendo, assumiram este como seu, destacaram-se ou destacam-se, deixando o seu legado em diferentes áreas. Mesmo correndo o risco de não serem todas citadas, deixamos aqui uma lista dos vultos que mais exerceram influência na sociedade ilhavense.
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João José Ramos Bio
João José Ramos Bio nasceu em Ílhavo, mais propriamente em casa de seus avós, na Rua Carlos Marnoto (antiga Rua do Pedaço), no dia 22 de novembro de 1937.
Depois da Escola Primária, estudou no antigo colégio de Ílhavo e na Escola Industrial e Comercial de Aveiro, onde, em tempo para além do útil, concluiu o Curso Geral de Comércio.
Cumpriu o serviço militar em Santa Margarida e na Escola Prática de Cavalaria em Santarém entre 1958 e 1962. Em 1960, ingressou na Direção Geral dos Serviços Hidráulicos onde fez a aprendizagem em topografia e hidrografia.
Em agosto de 1963 foi contratado pela Câmara Municipal de Ílhavo, como topografo desenhador e, em 1970, ascendeu ao cargo de Encarregado Geral, posição que manteve até atingir a aposentação em abril de 1996.
Entretanto, em fevereiro de 1992, tomou posse como Comandante dos Bombeiros Voluntários de Ílhavo.
Sendo uma pessoa dedicada e tendo ingressado nos Bombeiros pelo topo, teve oportunidade de frequentar um grande número de cursos em diversas áreas: de comandos, poluição marinha, segurança contra incêndios, coordenador aéreo avançado, preparação pedagógica de formadores, entre outros.
Na vertente de incêndios industriais/urbanos, coordenou a formação de sete novos formadores e cerca de 2000 bombeiros, entre os operários de empresas sediadas nas áreas portuárias desde Viana do Castelo até Vila Real de Santo António, em dezembro de 1995 e 1996, respetivamente.
Em 2005, na Escola Nacional de Bombeiros, em Sintra, coordenou a formação de 21 novos formadores e a instrução de cerca de 200 novos elementos de comando na área da luta contra incêndios industriais/ urbanos.
De abril de 1997 a abril de 2004, acumulou o serviço de Assessor na Divisão de Segurança do Porto de Aveiro.
Sempre dinâmico, a vertente desportiva nunca foi descurada em toda a sua vida. Foi atleta federado em diferentes modalidades no Illiabum Clube: Basquetebol, Hóquei em Patins e Andebol. Durante o estágio, no campo militar de Santa Margarida, treinou Hóquei em Patins no Clube de Hóquei de Abrantes.
A passagem ao Quadro de Honra foi solicitada, em 12 de outubro de 2007, à Autoridade Nacional de Proteção Civil, através do Comandante Coordenador Distrital.
João José Ramos Bio foi, durante 15 anos, Comandante dos Bombeiros Voluntários de Ílhavo, retirando-se agora desta função, deixando atrás de si um já longo e notável percurso trilhado ao serviço da comunidade ilhavense, com o sentido de Missão cumprida.
Novembro 2007
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João Mário Grave
Nascido a 27 de novembro de 1955, na Rua João Carlos Gomes, mais conhecida pela “Rua Nova” em S. Salvador, Município de Ílhavo, no seio de uma família modesta, João Mário Grave frequentou a Escola Primária nº 1 (escola nova). Logo após a conclusão do ensino básico, iniciou a sua atividade profissional como marçano numa conceituada loj a situada na esquina da Praça da República com o largo do Oitão, de António Santana, em Ílhavo, pela necessidade de ajudar no sustento da família.
No entanto, a sede de saber motivou-o, aos 14 anos de idade, a matricular-se na Escola Comercial e Industrial de Ílhavo, em regime noturno, onde concluiu o 3º ano do curso de serralheiro.
Após ter cumprido o serviço militar, com o mar a chamar por si, emigrou para a Holanda onde embarcou na marinha mercante durante 5 anos. De regresso à Terra Natal, contraiu matrimónio, em 1980, na Gafanha da Encarnação, regressando de novo ao mar, desta vez para a pesca do bacalhau, efetuando duas viagens. É neste período de ausência da pátria que a sua inclinação para a música se acentua, com especial relevo para o fado.
Depois de breve passagem pelos Estados Unidos da América, onde tentou mais uma vez a sorte além fronteiras, tendo lá participado em vários espetáculos de música, nomeadamente ao lado de Anita Guerreiro e Nuno de Aguiar, acabou por se estabelecer definitivamente na Gafanha da Encarnação, terra de adoção por casamento.
Começa a frequentar uma casa de fados na praia da Vagueira do Sr. Armindo Fernandes, guitarrista de renome, onde se apaixona definitivamente pela guitarra portuguesa, e aprende com este os primeiros acordes do portuguesíssimo instrumento.
Em 1989 conclui o Curso de Técnico de Frio, no então centro de formação profissional Forpescas e dele fez a enxada com que granjeou o sustento da família. Regressa de novo à escola para concluir o Curso Complementar dos Liceus na Escola José Estêvão, em Aveiro.
A par da vida profissional, João Mário Grave é, desde a primeira hora, um participant e ativo e entusiasta de várias atividades de Associações, entre as quais a Semana de Fado Amador de Ílhavo, organizada pela Associação Recreativa e Cultural Chio Pó-Pó, contribuindo, com outros elementos do grupo a que se associou, para o sucesso da iniciativa.
Em 2008, participou no filme “Amália”, na célebre cena do Olympia (Paris), e atua na Casa de Fados "Adega do Emídio", em Canelas, há cerca de quinze anos.
Em 2010, este ilhavense, que tem a música no coração, apresenta publicamente, no Museu Marítimo de Ílhavo, o seu primeiro CD intitulado "Fado de Prata", após 25 anos em que, vencida a vergonha, começou a cantar em público um estilo de música que tem na saudade e nos acordes da guitarra o embalo do seu inexorável destino.
Maio 2010
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Joel Reigota
Nascido a 8 de abril de 1968, na freguesia de S. Salvador, Concelho de Ílhavo, Joel Reigota cedo manifestou o gosto pela arte da tesoura e da agulha. Com apenas 20 anos formou-se em Design de Moda na Escola Gudy no Porto, com nota máxima.
Em 1989 era um dos coordenadores da Portex, onde trabalhou com Manuela Tujal.
Decidido a ampliar os seus conhecimentos, viajou para Paris em 1990, onde veio a estagiar com vários estilistas de renome internacional, como Jean Paul Gaultier e, mais tarde, com Thierry Mugler.
Joel Reigota concebeu o styling para a Moda Lisboa, para criadores como Dino Alves, Filipe Faísca, entre outros.
De 1995 até 2001 apresentou as coleções em Lisboa, onde se estabeleceu, com loja própria, no Bairro Alto. Entre 2001 e 2005 participou no Litoral Fashion, dividindo a passerelle com outros estilistas portugueses, como Miguel Vieira, Paulo Soares, Maria Gambina, a dupla João Tomé - Francisco Pontes, Fátima Lopes, Nuno Baltazar, entre outros.
Joel Reigota concebeu o guarda-roupa de várias figuras do meio artístico como Dulce Pontes, D’Arrasar, Fúria do Açúcar, Anger, João Melo, entre outros, tendo sido premiado como o melhor criador da Região na Gala Aveiro FM, em dezembro de 2004.
Criou igualmente o guarda-roupa para algumas peças de teatro da Companhia Teatro da Trindade de Lisboa e vestiu Rui Unas como apresentador do programa "Cabaré da Coxa" no canal SIC Radical, de 2003 até 2005. Nesse mesmo ano apresentou, no Museu Marítimo de Ílhavo, a sua coleção primavera - verão ‘05 e participou, a convite da Câmara Municipal de Ílhavo, na Exposição "Bacalhau com Todos".
No início de 2006 decorou 4 bicicletas que foram ofertadas pelo Presidente da República Jorge Sampaio aos Reis e Príncipes de Espanha, na Feira de Turismo de Espanha e, em fevereiro de 2006, apresentou a sua coleção primavera - verão ‘06 novamente no Museu Marítimo de Ílhavo.
É o responsável pela produção de fatos de várias Confrarias, nomeadamente a Confraria Gastronómica do Bacalhau e dedica grande parte do seu tempo ao design de novas peças de vestuário no seu atelier.
Joel Reigota é hoje, e marcadamente, o mais prestigiado criador da região, assumindo-se como um embaixador do Concelho de Ílhavo no mundo da moda.
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José Alberto Malaquias Ferreira
Nascido a 6 de janeiro de 1946, em S. Salvador, Município de Ílhavo, José Malaquias Ferreira concluiu a 4.ª Classe na antiga Escola Primária de Cimo de Vila, ingressando, posteriormente, na Escola Industrial e Comercial de Aveiro, onde completou, em 1964, o Curso de Serralheiro Mecânico e Complementar. Aí permaneceu, desta vez como Professor, para lecionar a disciplina de Trabalhos Manuais, optando no ano seguinte por seguir o Curso Elementar de Máquinas que concluiu na Escola Náutica de Lisboa, em 1969. Nesse mesmo ano embarcou na Marinha Mercante, onde desenvolveu a sua vida profissional, agregando ao seu currículo, em 1987, o Curso Complementar para Chefe de Máquinas na Escola Náutica de Paço de Arcos, reformando-se em 2001, aos 55 anos de idade.
Desde 1982 que este ilhavense se dedica a um artesanato muito raro e original , constituído por garrafas cujo interior é embelezado com miniaturas de barcos em madeira de balsa, antigos veleiros da pesca do bacalhau, entre outros, incluindo da Marinha Mercante.
Para José Malaquias fazer as miniaturas e colocá-las dentro das garrafas é uma questão de habilidade, sendo certo que foi o sogro, Samuel Corujo, que lhe transmitiu preciosas informações e importantes pormenores sobre como arrear completamente os mastros para que o barco, já concluído, possa entrar pelo gargalo da garrafa.
Esta é uma tradição herdada do sogro que José Malaquias pretende manter.
"O barco é completamente executado fora da garrafa, com ou sem velas. O segredo desta arte reside na existência de um sistema de linhas que atravessa os mastros por uns furos com menos de um milímetro de diâmetro, permitindo arrear os mastros e as velas de modo a que o barco tenha menos espessura que o diâmetro do gargalo da garrafa por onde vai entrar. Quando o barco já está lá dentro, é colado com uma massa de vidraceiro misturada com tinta azul, criando o efeito do mar, e só depois disso é que se puxam as linhas para içar os mastros, ficando o barco armado”. Este é um trabalho delicado que exige grande perícia porque as velas são feitas com mortalha de cigarro, papel que é muito sensível e frágil.
José Malaquias continua a enriquecer o seu espólio ao colocar miniaturas dos Palheiros da Costa Nova, do Farol da Barra e da antiga Capela da Costa Nova junto ao barco que não ostenta as velas, para dar a ideia de que se encontra atracado no Cais.
A par das garrafas, José Malaquias executa miniaturas de barcos, mas de maior porte, como moliceiros, salineiros, barcos da Arte Xávega, bateiras, veleiros, entre outros, bem como outras miniaturas de carros, comboios e aviões feitos igualmente em madeira.
Para além da sua presença em diversas Feiras de Artesanato, como a FARAV ou o Festival do Bacalhau, destaca-se a viagem a New Bedford, EUA, que este artesão fez em 2005 a convite da Câmara Municipal de Ílhavo, no âmbito das Comemorações do Dia de Portugal, divulgando assim os seus maravilhosos trabalhos, na esperança de que um dia alguém venha a perpetuar esta tão nobre arte, evocando a memória de um povo que nasceu, viveu e vive para o Mar.
Setembro 2010
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José Mário São Marcos Catão
Nascido a 28 de outubro de 1957, no Lugar da Légua, Município de Ílhavo, frequentou a Escola Primária de Cimo de Vila.
Concluída a instrução primária, ingressou no Ciclo Preparatório e Curso Geral do Comércio, na então Escola Preparatória D. Manuel Trindade Salgueiro (Ílhavo).De 1974 a 1975 estudou na Escola Industrial e Comercial de Aveiro (EICA) onde tirou o Curso Complementar de Contabilidade e Administração.
Três anos depois assentou praça em Vendas Novas, onde fez a recruta no Curso Geral de Milicianos. Foi promovido a Aspirante e posteriormente a Alferes Miliciano, tendo cumprido o resto do Serviço Militar no antigo RALIS (Regimento de Artilharia de Lisboa).Em 1981 emigrou para os Estados Unidos da América, onde viveu apenas 4 meses, optando por regressar à Terra Natal para trabalhar como Empregado de Escritório numa empresa em Aveiro, onde permaneceu durante 25 anos.
Em 2001 deixou o emprego e estabeleceu-se por conta própria no ramo da Pintura da Construção Civil, arte que herdou do pai, José Catão, e que exerce atualmente como seu filho.
Com característico gosto pela Arte da Representação, José Mário Catão juntou um grupo de pessoas da Légua e organizou um espetáculo de revista, em 1981, que teve lugar num armazém local. Desde então, a necessidade de angariar fundos para a construção do Centro N.ª S.ª da Luz fez com que nunca mais deixasse de participar em eventos culturais e recreativos no Lugar da Légua. Resultado de um trabalho intenso e generoso de muitas pessoas, em especial de José Mário Catão, estreou no dia 8 de abril de 1990 a Peça Musical de Frei Hermano da Câmara "O Nazareno", obra muito requisitada, nomeadamente no período da Quaresma da Páscoa, contando já com imensas representações, dentro e fora do Município de Ílhavo.
José Mário Catão foi Sócio Fundador do GRAL - Grupo Recreativo Amigos da Légua (1993), uma Associação de caráter cultural, social e recreativo da qual assumiu a Direção em 2001. Encenador e ensaiador do Grupo de Teatro da Légua (GRAL), este ilhavense é também autor dos textos das peças que são representadas pelo Grupo no Festival de Teatro Municipal, nas Festas de Natal e na rubrica "Serões da Légua, Serões da Província", bem com da letra de 4 Marchas Populares da Légua, uma da Gafanha da Nazaré e outra da Costa Nova
O seu caráter dinâmico e interventivo contribuiu para que abraçasse outras áreas: foi Sócio Fundador da Associação de Pais da Escola Primária da Légua, é o regente do Grupo Coral Litúrgico e Tesoureiro da Comissão de Gestão da Capela e Centro N.ª S.ª da Luz.
José Mário Catão revela uma história de vida bem preenchida, destacando-se pela sua dedicação à promoção e preservação dos valores culturais do Município de Ílhavo.
Maio 2009
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José Rodrigo da Silva Torrão
José Rodrigo da Silva Torrão nasceu a 27 de Dezembro de 1937, em Vale de Ílhavo, onde sempre viveu. Aos 5 anos de idade ficou órfão, tendo sido criado pelos avós maternos, ocupando o tempo de meninice entre os estudos primários e o trabalho na lavoura.
Terminada a quarta classe, e com apenas 12 anos, foi trabalhar na construção civil, como pedreiro e carpinteiro, ofícios que sempre exerceu até se reformar em 1990.
Apesar das adversidades da vida, José Rodrigo Torrão sempre apresentou um espírito alegre e dinâmico, que ainda hoje mantém.A sua participação activa no Carnaval de Vale de Ílhavo é disso um bom exemplo: ora como figurante, ora como elemento activo da organização, sempre demonstrou encarnar com fervor as tradições carnavalescas. Desde os tempos de juventude que se lembra de preparar a máscara e o seutípico traje de Cardador, para sair à rua e tocar o búzio, mais tarde o corno, que entoava ruidosamente, servindo o som de chamamento aos outros Cardadores.
Assim começava o alarido pelas artérias da localidade, em que estas figuras míticas surgiam do nada e, num corrupio, percorriam o cortejo, misturando-se no meio do público, provocando-o com os apitos, sinetas e guizos que traziam amarrados a si.
A Chegada dos Reis, o Corso Carnavalesco, o Baile do Santo ou a Serração da Velha são parte integrante do Carnaval de Vale de Ílhavo, uma manifestação sui generis de cariz popular, única em todo o mundo e à qual muito se orgulha de pertencer.José Rodrigo Torrão revelou, igualmente e desde cedo, uma especial aptidão para a música. A 17 de Agosto de 1955, com 17 anos de idade, entrou para a Filarmónica Gafanhense, onde começou por receber os ensinamentos do Mestre Balacó na arte de tocar cornetim. Mais tarde, foi o Mestre José Vidal que lhe transmitiu conhecimentos de trompa, à qual se dedicou durante alguns anos, tendo posteriormente optado por tocar contra-baixo.
Por exercer uma actividade intensa na preservação dos valores culturais do Município de Ílhavo, em especial como músico e dirigente, que em muito contribuiu para a dinamização da Música Velha, José Rodrigo Torrão foi agraciado com a Medalha de Mérito Cultural em Prata pela Câmara Municipal de Ílhavo, aquando das Comemorações do Feriado Municipal de 2007.
Fevereiro 2009
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José Vida dos Santos (Mestre Zé Vida)
Nascido na Gafanha da Nazaré, a 18 de Março de 1928, o Mestre Zé Vida, como é conhecido, frequentou a Escola Primária da Cale da Vila, tendo concluído apenas a 1.ª classe. Após alguns anos a trabalhar na Seca do Bacalhau, na "Pascoal e Filhos", foi para o Estaleiro dos "Mónicas" como ajudante dos Mestres, decorria então a II Guerra Mundial. Aí ajudou a construir, entre outros, os barcos de guerra, conhecidos por Caça-Minas, cujo destino era a Inglaterra.
Sendo filho de um pedreiro e porque naquela altura só os filhos de pais marítimos tinham a possibilidade de obter a cédula marítima, lembra com saudade o Mestre João Mónica (sócio da empresa) que tratou desse assunto, bem como pagou a sua viagem de comboio até Lisboa, em Abril de 1945, para que o Mestre Zé Vida pudesse embarcar no "Lutador", navio de madeira que ajudou a construir quando estava no Estaleiro.
Com dezassete anos de idade seguiu a vida marítima, inicialmente como ajudante de cozinheiro, rumo à Terra Nova e à Gronelândia para a pesca do bacalhau à linha, uma vida dura em que os homens saíam nos Dóris e pescavam o peixe que depois era transportado para o barco, escalado e salgado, numa rotina que lhes dava direito a apenas quatro horas de descanso.
Depois de nove viagens (9 anos) no Lutador, o Mestre Zé Vida embarcou no navio "Capitão José Vilarinho", também como ajudante de cozinha, seguindo-se três anos, já na categoria de cozinheiro, no "Adélia Maria", de José Maria Vilarinho, cujo comandante era o Capitão Francisco Marques com quem o Mestre Zé Vida sempre manteve uma relação muito cordial e próxima.
A vida no mar continuou, desta vez no navio "João Ferreira", da Indústria Aveirense de Pesca, com mais quatro viagens, sendo que as três primeiras foram à linha e a última já como Arrastão, com condições muito melhores.
Seguiu-se o navio "Capitão João Vilarinho" e o "Cidade de Aveiro", que foi campeão do Mundo ao transportar 60.000 quintais de bacalhau congelado e salgado, mas que se afundou na sequência de um incêndio na casa das máquinas, a dois dias de distância de Aveiro, decorria o ano de 1979, facto que o levou a mudar-se para a "Sofopel", em que a pesca era feita com redes de emalhar.
Reformado desde 1986, o Mestre Zé Vida recorda a pesca do bacalhau e toda a sua epopeia nos mares frios da Gronelândia e da Terra Nova, frisando que sempre lutou pela igualdade entre os oficiais e os pescadores, tentando dar a todos por igual aquilo que sempre soube fazer melhor: os seus saborosos cozinhados, onde se incluem a Feijoada de Chispe, Samos de Bacalhau Guisado, Bacalhau à Brás ou à Gomes de Sá, não esquecendo o pão, o Bolo-Rei e o Folar nas épocas festivas.
Janeiro 2011
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Manuel Ameixa
O seu nome é José da Graça, mas, por herança do avô, é conhecido por todos como Manuel Ameixa. O "Ti Ameixa", como carinhosamente também lhe chamam, é uma figura emblemática do nosso Concelho pela sua ligação à Ria e ao vaivém das travessias efectuadas entre a “Bruxa” e a Costa Nova.
Nascido na Gafanha da Encarnação, o contacto do Ti Ameixa com a Ria começou logo na infância. Depois da escola, o seu maior prazer era ir à procura do pai para poder andar na apanha do moliço, tendo mesmo, com apenas 5 anos, aprendido a manobrar a barca.
Nessa altura, eram vários os barcos que faziam o transporte de pessoas entre as duas margens, tendo o pai optado então por essa actividade em parceria com o filho, de 11 anos de idade, num negócio que dava sustento a toda a família. Vinha muita gente de longe, sobretudo depois da vindima, para uns dias de descanso na Costa Nova.
Celebravam-se ali muitos aniversários… e até os enterros passavam nas barcas!
Durante mais de 20 anos, Manuel Ameixa dedicou-se exclusivamente a esta actividade.
Mas, após a construção da ponte nova e a consequente diminuição de clientela, optou por ir trabalhar na Junta Autónoma do Porto de Aveiro. Mas não abandonou o transporte por completo. Durante os fins de semana e nas férias de Agosto ajudava o irmão, que entretanto ficara encarregue do negócio.
Com mais de sete décadas ao leme da sua barca, o Ti Ameixa é o único nos tempos que correm a fazer as travessias. Não tem memória de acidentes, apenas de um pequeno susto quando, certo dia ao sair da Costa Nova, sozinho, se levantou vento com o qual não contava. Felizmente conseguiu controlar a barca e seguiu viagem. Guarda, sim, boas recordações, quando outrora as raparigas cantavam, dançavam e o obrigavam a dançar com elas.
Estas são as memórias de outros tempos, homenageadas pela Câmara Municipal de Ílhavo quando, em 2000, colocou uma barca que pertencia à família de Manuel Ameixa numa das rotundas da Estrada da Mota. A esta barca só a imaginação pode levar mais longe, mas a do Ti Ameixa continua a contar com a sua sagacidade e engenho para que a "Bruxa" e a Costa Nova continuem unidas pelo beijo molhado da Ria, sob o olhar atento de tantos quantos se aventuram nesta calma e inesquecível travessia.
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Manuel Bem Cónego
Natural de S. Salvador, Ílhavo, Manuel Bem Cónego iniciou os seus estudos na Escola Primária da Coutada, de onde seguiu para o Colégio de Ílhavo, tendo sido dos primeiros alunos daquele Estabelecimento de Ensino. Concluído o 3.º ano, ingressou no Liceu José Estêvão, em Aveiro, onde estudou os quatro anos seguintes.
Por sempre se interessar pela saúde humana, prosseguiu os seus estudos ingressando na Universidade de Coimbra, onde seis anos depois concluiu com distinção a Licenciatura de Medicina e Cirurgia, precisamente no dia em que comemorou os seus 25 anos.
Após dois anos e meio a exercer Medicina no Hospital Militar de Coimbra, regressou a Ílhavo para trabalhar como médico de Clínica Geral na Casa dos Pescadores, mais concretamente na Gafanha da Nazaré, Gafanha da Encarnação e S. Jacinto durante sete anos.
De 1964 a 1998, foi estomatologista no Centro de Saúde de Aveiro (Serviço Nacional de Saúde), tendo entre os anos 1967 e 1969 trabalhado como médico estomatologista mobilizado no Ultramar.
Manuel Cónego vive uma vida preenchida em prol do bem-estar das pessoas, continua a exercer com paixão a sua profissão, mantendo-se ativo e defensor do provérbio "mente sã em corpo são".
Fevereiro 2012
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Manuel Celestino Emydgio
Nasceu em Ílhavo, em Março de 1820, e faleceu em Lisboa a 26 de Julho de 1898. Tendo frequentado a Universidade de Coimbra, formou-se em Direito em 1851.
Abriu, então, banca de advogado em Aveiro. Em 1855 foi eleito vereador da Câmara Municipal, e em 1857 nomeado Administrador deste Concelho. Em 1859, obteve despacho de delegado por procurador régio de Moura, exercendo depois as mesmas funções nas comarcas de Fafe, Celorico da Bastos e Lisboa. Nesta última prestou relevantes serviços na descoberta dos crimes perpetuados pela famosa companhia denominada "Olho Vivo".
Em Setembro de 1868 foi promovido a Juiz de 3ª classe e colocado na Comarca de Taboa. Anos depois presidiu ao tribunal do Comércio da Cidade do Porto. A Associação Comercial da mesma cidade ofereceu-lhe uma pasta de marroquim, com as suas iniciais em oiro, contendo uma honrosa mensagem.
O Dr. Manuel Celestino Emygdio, morreu juiz da relação de Lisboa e por muitos anos serviu nos tribunais dos 1º e 3º distritos da Comarca de Lisboa.
Era um magistrado reto conscensioso e, apesar da sua aparência ríspida e do seu génio arrebatado, tinha coração generoso e propenso ao bem. -
Manuel Ferreira da Cunha
Manuel Ferreira da Cunha nasceu em Ílhavo em 30 de Maio de 1863. Fez o liceu em Aveiro, formando-se em farmácia em Coimbra.
Desde bem novo que Manuel Ferreira da Cunha começou a defender, com uma dedicação e um zelo digno de respeito, os interesses da sua terra, sendo dos primeiros Ilhavenses que lançou a ideia de se fundar um hospital. Foi sempre uma pessoa sem ambições pessoais e políticas, sem vaidade, sempre leal para todos. Entre os vários cargos que desempenhou, destacam-se: representante do Inspetor Primário para os exames em Ílhavo; fez parte da Junta Escolar; foi nomeado vogal do júri dos exames elementares; fez parte da comissão de Resistência para a Restauração do Concelho de Ílhavo; sócio correspondente da Sociedade Farmacêutica e louvado na Sociedade Farmacêutica Lusitana; membro da Academia Phisique Chimique Italiene; foi proposto membro da Société Académique D'Histoire International (oficina de Instrução pública); Administrador do Concelho de Ílhavo em 1900, exercendo esse cargo pela segunda vez em 1903, redigindo nesta data a representação feita ao parlamento para que fosse votada uma pensão ao Arrais Ançã.
Faleceu a 18 de Agosto de 1946, com 83 anos de idade.
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Manuel Teles
Nascido (1935), criado e vivido nesta Terra Maruja, no seio de uma conhecida família onde muitos artistas se revelaram, Manuel Teles bem cedo começaria a dar mostras de algum jeito para as artes de Palco.
Estreou-se assim nas célebres Récitas da velhinha Sede dos Escuteiros recitando e cantando monólogos, por mão do Reverendo Padre Miguel da Cruz.Estudante do Secundário no saudoso Colégio João de Barros (Ílhavo), tornou-se conhecido pelo seu sentido de humor (e brincadeira), o que em nada ajudou a conclusão do Curso… Com a aparição do "Girassol das Surpresas", que era um espectáculo musical de Variedades, levado à cena em 1954 em beneficio da aquisição da primeira ambulância dos nossos Bombeiros, Manuel Teles dá largas à sua queda para apresentador e imitador. Passou então a ser solicitado para as mais diversas actividades que tivessem a ver com o seu jeito (diziam!) para estar e falar em público. Colaborou em inúmeras iniciativas de cariz beneficente em favor das mais diversas instituições da nossa Terra (e não só).
Também no serviço militar viria a granjear grandes amizades, que perduram, graças ao seu sentido de humor e camaradagem, por vezes em situações menos alegres…
Feita a "tropa" ingressa na Fábrica da Vista Alegre (1958), primeiro como controlador/cronometrador, depois como adjunto do Serviço deRacionalização, responsável pelo Centro Gráfico, acabando como Chefe dos Serviços Sociais da Empresa. Ali teve a oportunidade de integrar o Grupo Cénico, colaborar com o Orfeão e Banda de Música, Corpo de Bombeiros Privativo e em múltiplas iniciativas que levaram bem alto o lema “Labor e Cultura".
A par destas actividades manteve-se ligado à Rádio Faneca desde 1954, animando as tardes e noites de "picadeiro" em Ílhavo e na Costa Nova, ate 1979 e 1998 respectivamente. Ainda agora é responsável pela "reposição" das Tardes da Rádio Faneca levadas a efeito periodicamente pela Associação Chio-pó-pó.
Manuel Teles está ligado às Marchas Populares desde o seu aparecimento, sempre como apresentador/animador, mostrando com a sua graça e à-vontade, que "quem sabe não esquece", colaborando graciosamente com a CMI na gestão desta iniciativa.
Junho 2007
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Maria Beatriz F. A. do Rêgo
Nascida a 26 de Maio de 1938, na Cidade de Lourenço Marques (Maputo), Maria Beatriz do Rêgo desde tenra idade manifestou um forte desejo em se dedicar ao ensino. Desde os 18 anos que a sua caminhada profissional esteve ligada à Educação e ao Ensino, principalmente dedicada à Criança.
Terminados os estudos liceais e, contrariando um pouco a vontade dos pais, optou pela carreira, que considera belíssima, de Professora do Ensino Básico, na época designada por Ensino Primário.
Frequentou e concluiu o curso no Magistério de Viseu e regressou à Terra Natal, onde exerceu a sua actividade profissional durante dezasseis anos, ocupando igualmente o cargo de Directora da Escola com todas as responsabilidades e actividades inerentes ao cargo.
A Prof. Beatriz participou em trabalhos experimentais para o lançamento do Ensino Pré-Primário em Moçambique, na época inexistente naquele território, e que muito contribuíram para o desenvolvimento da Criança.
Durante o Governo de Transição, foi convidada para participar como Delegada Escolar, face à experiência que detinha na programação de Currículos, mais adaptados a novas ideias educativas e, também, mais adequados às realidades locais.
De regresso a Portugal, em 1976, foi colocada no Município de Ílhavo, nas Escolas da Costa Nova e Moitinhos, com excepção de um único ano lectivo, em que leccionou no Concelho de Vagos.
Com a criação do Programa Interministerial para a Promoção do Sucesso Educativo, vulgo PIPSE, foi eleita para desempenhar funções como Coordenadora Concelhia de Ílhavo, cargo que desempenhou até atingir a aposentação.
Posteriormente, foi convidada para exercer o cargo de Presidente da ANP -Associação Nacional de Professores, na Secção de Ílhavo, em regime de voluntariado total que aceitou com agrado por considerar uma oportunidade única para pôr em prática e transmitir aos colegas o conhecimento adquirido neste programa, bem como a experiência de toda a sua vida profissional dedicada ao Ensino e à Educação. Neste contexto, organizou acções de formação, para docentes e não docentes, sempre com o apoio institucional da Câmara Municipal de Ílhavo.
Nos últimos anos passou a organizar acções de carácter sócio-cultural destinadas a todos os professores, cuja adesão maior se revelou por parte dos professores aposentados.
Para além destas funções, a Prof. Beatriz esteve igualmente ligada ao projecto do Lugar dos Afectos, um parque temático criado para o desenvolvimento das relações de afectividade e continua, ainda hoje, com a mestria de quem ensinou o "bê-á-bá" a várias gerações, a ser ela própria uma importante lição de vida, de saber e de entrega.
Outubro 2009
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Maria de Lurdes de Jesus Vieira
Nascida a 10 de Novembro de 1955, no lugar da Costa Nova, Freguesia da Gafanha da Encarnação, Município de Ílhavo, Maria de Lurdes frequentou a Escola Primária da Costa Nova, que se encontrava perdida no areal entre o casario e a praia, proporcionando-lhe na infância belíssimos passeios na praia para poder avistar a saída da rede puxada pelos bois: era a Pesca da arte Xávega.
A frequência da catequese naquele tempo (doutrina), com a D. Palmirinha, e toda aquela ambiência, despertou-lhe o gosto em ser catequista, função que iniciou aos 13 anos e que ainda hoje mantém.
Concluído o Ciclo Preparatório na Escola Preparatória João de Aveiro e, posteriormente, o Liceu Homem Cristo, em Aveiro, ingressou no Magistério Primário. No entanto, um grave problema de saúde impediu-lhe concluir os estudos.
Recuperada da doença, Maria de Lurdes voltou a dar catequese, bem como explicações a alunos dos 1º e 2º Ciclos, colaborando com o seu pai na organização da Festa de Nossa Senhora da Saúde.
Em 1989, foi constituída uma Comissão para a criação de uma Paróquia independente da Gafanha da Encarnação, que viria a ter o nome de Paróquia de Nossa Senhora da Saúde. Maria de Lurdes Vieira sempre foi um elemento activo da Comissão, ajudando a promover o lançamento da 1ª pedra da nova Igreja, a 23 de Setembro de 1990, bem como a sua inauguração, que aconteceu no ano 2000.
Em 1995, tomou a iniciativa de criar uma associação cultural e recreativa com o objectivo de divulgar as raízes, tradições e costumes da sua terra, denominando-a de "Palheiros da Costa Nova", cujo folclore tem levado o bom nome da Costa Nova e do Município de Ílhavo pelo país fora, bem como além fronteiras.
Desde 1997, a A.C.R. "Os Palheiros" da Costa Nova tem participado nas marchas de S. João do Município de Ílhavo. À excepção do 1º ano de participação, todos os restantes poemas apresentados foram da sua autoria, tendo valido à Marcha vários prémios.
Dona de um espírito expedito e lutador, esta ilhavense tem participado na vida política do Município de Ílhavo. Foi elemento da Assembleia Municipal, entre 1997 e 2001, Presidente da Assembleia da Junta de Freguesia da Gafanha da Encarnação (2001-2005), sendo, actualmente, membro da Assembleia Municipal De Ílhavo (2005-2009).
Junho 2009
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Maria de Nazaré Jardim Soares da Costa
Maria de Nazaré Jardim Soares da Costa nasceu a 14 de Julho de 1964, em Santiago de Riba-Ul, Concelho de Oliveira de Azeméis.
Sendo a mais velha de sete irmãos, estudou até ao 7º ano de escolaridade, começando a trabalhar com apenas 14 anos numa empresa de calçado.Aos 22 anos decidiu enveredar pela Vida Religiosa por sentir que a sua felicidade e realização pessoal passariam por esta opção de vida de entrega a Cristo, numa Congregação Religiosa.
Esta foi uma decisão difícil pelas especificidades próprias pois iria assumir uma forma de vida diferente da que estava habituada, mas a força do coração, da razão e da fé falaram mais alto. Acreditava que se era feliz tinha que lançar a semente da felicidade junto dos outros. Decisão tomada, a Irmã Nazaré venceu vários obstáculos: deixar a família, o emprego e os amigos.
Seguiram-se 8 anos de formação intensa em diferentes áreas como humana, académica, teológica e espiritual, acompanhada de trabalho pastoral para um discernimento bem esclarecido.
Logo após a Primeira Profissão Religiosa, passou pelo Lar Luísa Canavarro, no Porto, onde permaneceu dois anos e aí completou o 9º ano. Os dez anos seguintes foram ocupados na Casa de Formação Cristã da Rainha Santa, uma Instituição de apoio aos Jovens, onde a Irmã Nazaré concluiu, em 2001, a Licenciatura em Ciências Sociais, pelo Instituto Superior Bissaya Barreto, em Coimbra.
No dia em que terminou a Licenciatura, veio para Ílhavo. A Congregação das Irmãs do Bom Pastor, à qual pertence, tem uma longa história e experiência no trabalho com mulheres e crianças em dificuldades.
Concretamente no Lar do Divino Salvador, resposta social pertencente ao Património dos Pobres da Freguesia de Ílhavo, que tem como missão muito especifica o trabalho com mulheres e seus filhos em dificuldades sociais, realiza um grande investimento direccionado para o desenvolvimento e crescimento das mães e crianças, num acompanhamento muito directo e estreito, proporcionando um ambiente que lhes dê segurança, afecto e onde sejam asseguradas as necessidades básicas. O esforço de toda uma equipa multidisciplinar vai para que as crianças sintam a força, a presença, o afecto e o acompanhamento da Mãe.
É com base na força e coragem que o seu trabalho e o da Instituição persistem e, apesar de também sentir o fracasso, perfilha da filosofia de Saint Exupery, porque na sua óptica “o essencial é invisível aos olhos”.
O investimento personalizado, o fazer descobrir e desenvolver o sentido da maternidade, fazem deste um trabalho meritório quando se vê o brilho genuíno nos olhos das Crianças e Mães, continuando a acreditar que "uma pessoa vale mais do que o mundo inteiro".
Dezembro 2009
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Maria Ernestina Ribeiro Marnoto
Filha de pai ilhavense e mãe portuense, Maria Ernestina nasceu a 14 de Outubro de 1936, na Cidade do Porto, tendo sempre vivido na freguesia de S. Salvador, Município de Ílhavo.
Tina Marnoto, como é conhecida, sempre foi uma apaixonada pelos trabalhos manuais, tendo aprendido muito jovem os primeiros pontos: tricot, bordados, malhas, renda, entre outros estilos, pequenos saberes em que se baseou para imprimir maior criatividade nas suas criações.
Com apenas 14 anos já ajudava no sustento da família: labutava com uma máquina de "apanhar malhas em meias" e fazia outros trabalhos na Retrosaria "Laura Bezurna" que era propriedade da sua mãe.
Depois do 25 de Abril de 1974, Tina Marnoto deixou a Retrosaria e foi trabalhar no antigo Hospital de Ílhavo, onde permaneceu durante um ano. Posteriormente foi Auxiliar de Acção Educativa durante 22 anos, 18 dos quais na Creche da Malhada, dedicando os tempos livres à sua paixão pelos bordados.
Mas foi depois da reforma que realizou o sonho de concluir o 6º ano de escolaridade e de se dedicar de corpo e alma ao Macramé, arte de entrelaçamento de linhas muito usada e divulgada pelos pescadores e marinheiros da Terra Maruja.
Tina Marnoto trabalha sem agulhas, utilizando apenas alfinetes para poder fazer os nós de marinheiro e firmar bem o trabalho que requer muita atenção e cálculo.
A artesã gosta de misturar diferentes estilos e materiais, que vão desde toalhas em linho, nas quais sobrepõe os bordados e o macramé, até marcadores de livros, napperons, molduras ou aplicações em vidros e toalhas.
Dona de um talento sem limites, sempre dinâmica, criativa e bem disposta, Tina Marnoto ensina esta arte há mais de dez anos, uma actividade da qual se orgulha muito, tendo recentemente realizado, a título de voluntariado, formação nas Oficinas Criativas e nos Ateliers do Fórum Náutico.
A sua participação em diversas exposições e certames de artesanato são também uma constante. A convite da Câmara Municipal de Ílhavo esta artesã esteve presente na FARAV, bem como na edição de 2009 do Festival do Bacalhau, onde milhares de pessoas tiveram oportunidade de conhecer e apreciar os seus maravilhosos trabalhos.
Setembro 2009
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Mestre Adelino Palão
Lá diz o povo que “filho de peixe sabe nadar”… Este provérbio aplica-se bem à vida do Mestre Adelino Palão. Neto do grande Arrais Palão e filho de Adelino Vieira (também conhecido por Adelino Palão), homem que passou a sua vida no mar, vinte e sete anos na pesca do Bacalhau à linha e dezassete como Mestre de traineira, herdou naturalmente o gosto pela vida marinheira.
O mais novo de 4 irmãos e o único barão, acompanhava por isso sempre o pai nas viagens ao Mar. Aos seis anos já tinha corrido toda a costa portuguesa. Tal era o gosto, que algumas vezes, fugindo às aulas, se escondia a bordo da traineira, aparecendo só quando o barco estava ao largo, conta, com um largo sorriso de alegria que a sua primeira paixão foi o Mar.
Aos vinte e três anos comprou o seu primeiro barco, "Jessica", e foi assim que, com mais dois sócios, pescou amêijoa, robalos, pregados, linguados e todo o peixe que a nossa costa oferecia. Conta Mestre Adelino que levou alguns sustos nessa época, fruto do fulgor da idade e das afrontas que muitas vezes fazia ao Mar, que teimava em não respeitar. Mas lá se foram entendendo e aprendeu não só a respeitá-lo mas a amá-lo e a admirá-lo… e a "Jessica" deu origem a outro barco, "Jesus nas Oliveiras". Passados dois anos, com a morte inesperada de seu pai, viu-se pela primeira vez a trabalhar sozinho, mas, à custa de muito sacrifício, o velho deu origem ao novo "Jesus nas Oliveiras". Este foi, para Mestre Adelino, a realização de um sonho - ter um barco novo neste percurso de pesca.
Desde os vinte e um anos que Mestre Adelino gere o seu negócio, começando por empregar 14 pessoas. Actualmente são já 23, apesar de todas as intempéries que têm caído sobre a pesca e sobre todos que dela vivem. "Os maus momentos só são superados pela grande estabilidade e amor de uma família e de uma esposa dedicada que nos acolhe, acarinha e renova forças para todos os dias voltarmos a enfrentar o dia a dia com determinação e coragem", partilha Mestre Adelino em jeito de desabafo.
O barco do Mestre Adelino Palão percorre toda a costa portuguesa, desde Viana a Portimão, passando pela Povoa do Varzim, Matosinhos, Aveiro, Figueira da Foz, Nazaré, Peniche, Sesimbra e Sines, pescando sardinha, a prata do mar, e arrecadando imensas histórias para contar.
O mar tem sido para Mestre Adelino o tempero que lhe dá força e tenacidade. Só assim se justifica ter conseguido resistir às mudanças a que este país tem assistido no sector da pesca, e ser ele o único pescador de traineira no Porto de Aveiro (nesta Terra que o viu nascer), acostado em regra no Porto de Pesca Costeira localizado na Gafanha da Nazaré.
Maio 2007
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Padre João Ferreira Sardo
Nascido a 1 de Setembro de 1873.
Foi ordenado Sacerdote, depois de um curso brilhante, em 1898. De seguida foi colocado pelo Senhor D. Manuel Correio Bastos Pina, Bispo de Coimbra, como capelão na Gafanha da Nazaré, exercendo essa função até 10 de setembro de 1910, data em que esta capelania é constituída freguesia.
O padre Sardo, um jovem sacerdote de 24 anos, procurou dar a este povo um incremento religioso, não sé em aspetos devocionais mas também jurídicos.
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Padre Manuel Francisco Grilo
O Padre Manuel Francisco Grilo nasceu a 14 de Maio de 1888, em Ílhavo.
Filho de pescador que andava na pesca do bacalhau, cedo conheceu as dificuldades da vida. Frequentou o seminário de Coimbra, ordenou-se sacerdote. Apenas com 24 anos de idade mudou de residência, indo habitar a então Vila de Matosinhos, onde encontrou ambiente igual à terra onde nasceu.
A vontade de saber levou-o a concluir o curso de engenheiro agrónomo e o da Conservatória de Música, mostrando também grande vocação para a pintura.
Como padre, desde logo decidiu combater, com todas as suas forças, a miséria moral e física que existia na terra em que vivia. Fundou a Sopa dos Pobres que distribuía 600 refeições diárias, ajudou a fundar a Conferência de são Vicente de Paula e concretizou o seu grande sonho, a construção de uma Casa Regeneradora dos Rapazes de Rua, edifício intitulado "Obra do Padre Grilo", inaugurado a 28 Julho de 1963.
Faleceu com 79 anos a 1 de Novembro de 1968, em Matosinhos, onde se encontram os seus restos mortais.
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Padre Manuel Ribau Lopes Lé
Nascido a 4 de Agosto de 1922, na Gafanha da Nazaré, Concelho de Ílhavo, seus pais, José Lopes Júnior (ou José Lopes Lé) e Teresa de Jesus Ribau, cedo lhe ensinaram a mestria do trabalho da lavoura.
Sendo o seu pai marnoto, dele recebeu os segredos dessa arte (ofício), acompanhando-o até aos 14 anos de idade.
Uma vez concluída a instrução primária, na Escola do Sr. Prof. Oliveira, na Gafanha da Nazaré, iniciou em 1936 a frequência de vários seminários, num percurso trilhado durante 11 anos. Integrou o Seminário da Imaculada Conceição de Figueira da Foz (sua abertura), de 1936 a 1937. De 1937 a 1939 encontrou-se no Seminário Maior de Coimbra. De 1939 a 1943, foi o Seminário de Aveiro (abertura pela restauração da Diocese), o seu local de formação. Para terminar este percurso, estudou no Seminário de Cristo Rei dos Olivais, de 1943 a 1947.
A sua ordenação sacerdotal aconteceu a 20 de Setembro de 1947, no Bunheiro, pelo Sr. D. João Evangelista de Lima Vidal, na Vigília de S. Mateus, iniciando a sua actividade sacerdotal 8 dias depois, ao celebrar a Missa Nova, na Igreja Matriz da Gafanha da Nazaré, sendo na altura Pároco o conhecido Padre Guerra.
Durante 5 anos, o Padre Lé foi coadjutor, no Bunheiro, com o Sr. Padre Domingos da Silva e Pinho e paroquiou as freguesias de Préstimo e Macieira de Alcoba, do arciprestado de Águeda, durante outros 5 anos.
No dia 28 Outubro de 1957, no Domingo de Cristo Rei, o Padre Lé regressa às origens, tendo sido nomeado Pároco da Gafanha da Encarnação, onde exerceu a sua actividade pastoral, numa relação de proximidade com a Comunidade.